Entrevista Dra. Carolina Gomes – Fisioterapeuta, atua na China.
– Como você ingressou na Fisioterapia?
Entrei na faculdade de fisioterapia em 2002 (estava na dúvida entre medicina e fisioterapia, então meu avô teve um AVC e acompanhei um pouco o atendimento da fisioterapeuta que atendia em casa e então me apaixonei). Me formei no ano de 2007, iniciei a pós-graduações na UFSCAR em Neuropediatria e Hospital Israelita Albert Einstein em Fisioterapia Neurológica, depois das pós-graduações, estudei inglês fora do Brasil.
– A sua decisão de estudar inglês fora, teve influência do mercado de trabalho para Fisioterapeutas no Brasil?
Quando pensei em estudar inglês foi voltado para o mestrado. Pois eu planejava fazer mestrado quando terminei as pós-graduações. Como eu não tinha um bom inglês, então pensei em ir para ajudar nessa parte. Acabei ficando 6 meses estudando na Nova Zelândia. E futuramente o Inglês me ajudou muito a viver na China.
– Mas o mercado da Fisioterapia, para você, estava ruim ou a decisão era focada no mestrado?
Na época o mercado estava ruim (ao menos no meu caso), então pensei em iniciar o mestrado para ajudar. Juntei os dois motivos.
– Após os 6 meses na Nova Zelândia, você voltou para o mercado de trabalho no Brasil?
Sim, voltei e comecei a trabalhar como fisioterapeuta, deixei a ideia do mestrado de lado porque consegui um emprego (sem relação com o idioma) e então após 2 anos trabalhando aqui, fui para a China.
– Como surgiu a oportunidade para ir trabalhar na China?
A relação com a china começou por motivos pessoais. Meu namorado na época foi transferido a trabalho (não é fisioterapeuta), depois eu fui. Ainda sem emprego e projetos.
– Como foi a sua adaptação ao mercado chinês? Como você começou e quais resultados colhe agora?
Logo que cheguei conheci alguns brasileiros e então montei um estúdio de pilates (não existia nenhum na cidade), então foi super bem aceito pelos estrangeiros. Porém para os chineses ainda não, pois não sabiam o que era pilates e nem conheciam a fisioterapia brasileira. Então comecei com o pilates e atendimentos de fisioterapia e depois fui chamada para trabalhar em uma clínica médica multidisciplinar internacional. Atualmente continuo com as duas atividades: meu estúdio de pilates com aulas individuais e/ou dupla e na clínica Global Doctor como fisioterapeuta. Porém o foco lá é ortopedia/esportiva, a fisioterapia neurofuncional ainda não tem mercado lá.
– Você acredita que o mercado brasileiro e chinês são similares para Fisioterapia?
Não! Aqui ainda é muito maior e melhor. A fisioterapia ainda é muito nova na china. Os chineses conhecem médicos e para eles são os médicos e ou massagistas/acupunturistas que fazem todo tipo de trabalho. Eles não reconhecem ainda a profissão fisioterapeuta, é muito nova. Até porque a medicina tradicional chinesa (acupuntura, moxa, vácuo e outras técnicas) é muito forte e tradicional no país. Com isso a fisioterapia ocidental/brasileira ainda é pouco aceita e compreendida por eles. Mas para os estrangeiros que moram lá, faz muita diferença. O mercado é carente de Fisioterapeutas.
– Como é a recepção da fisioterapia brasileira pelos chineses? Tem diferença em comparação aos estrangeiros?
Tem sim bastante diferença. Os estrangeiros gostam da fisioterapia convencional. Muitos estrangeiros aceitam e gostam da medicina tradicional chinesa, mas para alguns tratamentos eles preferem a fisioterapia que conhecemos. Acreditam mais, isso tudo é cultural.
Já os chineses, culturalmente acreditam e aceitam mais a medicina chinesa. De uns tempos para cá, alguns chineses estão aceitando e entendendo a Fisioterapia. Mas ainda a medicina tradicional chinesa é mais aceita.
Porém pelos estrangeiros eles utilizam a fisioterapia como tratamento prioritário, e a chinesa tradicional como um complemento.
– Você acha que a Fisioterapia brasileira tende a crescer na China?
Sim, com toda certeza. Não somente a brasileira, mas fisioterapia como um todo tende a crescer muito! Primeiro porque hoje em dia muitos estrangeiros moram na china e o país está em elevado desenvolvimento e com isso aumenta o número de profissionais que vão trabalhar no país.
– Atualmente quais são suas pretensões como Fisioterapeuta no mercado chinês?
Pretendo continuar por lá com o pilates e com a clínica, porque a população precisa e o mercado ainda é muito escasso. A procura pela fisioterapia é muito grande lá. Nas cidades maiores a procura é maior ainda. O ponto negativo é a nossa atualização profissional, que fica muito difícil e restrita lá. A china oferece poucos cursos em inglês na nossa área, pois é tudo muito novo. Alguns lugares tem cursos, porém em cantonês/mandarim.
Já em Hong kong é possível conseguir cursos melhores e em inglês. Mas a facilidade para atualização por lá não é muito fácil. Somente se quiser fazer acupuntura ou algo voltado para a medicina oriental.
– Neste momento você está de férias e a passeio no Brasil, está aproveitando para fazer cursos?
Isso mesmo. Eu venho 1 vez ao ano de férias e geralmente procuro fazer algum curso para atualização profissional.
– Você fará o curso de Bandagem, na Resportes, tem procura pela técnica na China?
Tem sim bastante. A procura pela fisioterapia esportiva lá é grande!, então a bandagem funcional tem bastante utilidade. Entre outras funções profissionais também.
– Você aconselha que Fisioterapeutas brasileiros atuem em outros países?
Sim, Com certeza. Porque a valorização do profissional fora do Brasil é melhor. O reconhecimento profissional e financeiro é melhor. É claro Raphael, se eu tivesse as mesmas oportunidades profissionais aqui no Brasil, eu estaria aqui, pois minha família, amigos estão aqui.