Por Luciana Bilitário
O fisioterapeuta é o profissional da saúde que potencializa a função do movimento humano, o “movimento inteligente”; desenvolve estratégias de avaliação e tratamento para melhorar a capacidade funcional e a qualidade de vida das pessoas. A pandemia afastou fisicamente as/os fisioterapeutas dos seus pacientes e nos faz refletir sobre nossa formação e nossas práticas. Afinal, quais conhecimentos, habilidades e atitudes precisaremos desenvolver para o mundo pós-pandemia? Os novos hábitos de trabalho e relações sociais irão influenciar o desempenho dos profissionais Fisioterapeutas? Existem tendências que devemos estar atentos e quais oportunidades de novos negócios podem estar surgindo?
Começamos então pelo conceito de competência. Afinal, o que é ser um/a Fisioterapeuta competente? Competências podem ser definidas como os conhecimentos, habilidades e atitudes que o indivíduo deve apresentar ou desenvolver para realizar ações/atividades em determinado ambiente. Assim, identificamos como “competente” o fisioterapeuta que apresenta resultados profissionais satisfatórios, tem muitos pacientes, visto como profissional de sucesso na vida acadêmica, nos negócios, ou aquele que é reconhecido por desempenhar bem o seu papel profissional na sociedade. Sendo assim, a busca pelos atributos e certificações leva milhares de estudantes e profissionais a procurar os treinamentos de habilidades técnicas. Cursos e mais cursos dominam a busca dos acadêmicos. Claro que isso é importante e continuará sendo… mas, o que muda com a pandemia?
Antes de entender nossa realidade particular, vamos ampliar um pouco a visão na área da gestão empresarial e do mundo dos negócios. Em pesquisa realizada com 7.300 executivos de negócios, líderes de recursos humanos e funcionários de nove setores estratégicos em 34 países (antes da pandemia), pesquisadores do Estudo Global de Tendências de Talentos da Mercer, divulgados em 2020, observaram que: funcionários de empresas que focam em saúde e bem-estar têm quatro vezes mais chance de serem motivadas com o trabalho; os colaboradores confiam que as empresas irão capacitá-los e não substituí-los por tecnologias digitais; o investimento em comunicação social, comportamento digital, tecnologias e softwares é necessário; os executivos estão preocupados nas metas sociais, ambientais e de governança corporativa (responsabilidade jurídica, contábil e antifraude). E o que isso tem a ver com nossa realidade e com o mundo pós-pandemia? Algumas desses resultados foram bastante acelerados com a pandemia de 2020 do coronavírus: capacitações para comunicação e aulas digitais, rápida adaptação a comunicação digital com os pacientes; aprendizado para teleconsulta e telmonitoramento; home office, comunicação em redes sociais, relacionamento com clientes/pacientes.
Sem ter bola de cristal, mas, fazendo uma análise de ambiente externo, teremos que nos capacitar para um mundo pós-pandemia no qual teremos que desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes para lidar com as mudanças que estão por vir:
- Teleconsulta e telemonitoramento na Fisioterapia: importante deixar óbvio que Fisioterapia é uma profissão do toque, da mobilização, portanto, apenas alguns recursos e fases do tratamento poderão ser conduzidos a distância. Esse ítem ainda precisa de discussão na regulamentação e especialmente, cobertura dos planos de saúde.
- Ressignificar os processos e ações: praticar o desapego de técnicas arcaicas e ineficazes. Sem dúvida um grande passo para a evolução da profissão será reconhecer definitivamente o que não funciona.
- Otimizar o uso das tecnologias nas avaliações fisioterapêuticas: o crescimento de aplicativos e softwares auxiliares a análise do movimento humano será expressivo. Está aqui uma grande oportunidade para parcerias entre a tecnologia da informação e a Fisioterapia. A tecnologia lê os dados mais rapidamente e você terá mais tempo para usá-los da melhor forma possível.
- Uso de Realidade virtual e “gameficação” como auxiliares nos programas de reabilitação para engajamento e ludicidade no tratamento, inclusive na atenção terciária (hospitais e UTIs).
- Conhecer e usar a Fisioterapia baseada em evidências a nosso favor (tripé experiência do profissional, desejo do paciente e melhor evidência possível – lembrar que evidência não é artigo!). Recomendaria a todos os cursos de graduação que se prezem a formar profissionais dignamente, a inclusão da disciplina na matriz curricular.
- Medir resultado de forma eficaz para tomada de decisão. O uso de bons indicadores de resultados no tratamento fisioterapêuticos irá definir a entrega de valor. Num futuro próximo seremos remunerados por entrega de resultado no tratamento. Escolha bem o que vai estudar, os cursos que vai fazer e as técnicas que vai realizar!
- Trabalho interprofissional: buscar soluções simples e em equipe.
Finalizo com a frase de Sam Walton, falando de empresas, mas, que se aplica as pessoas: “Assim como a evolução natural, também vale para as empresas o pensamento que não são os mais fortes que sobrevivem, e sim os que se adaptam mais rapidamente as mudanças.” Portanto, se adaptar é preciso e tomar a decisão de mudar e desenvolver novas competências, necessário.
Referências:
- DUTRA, Joel Souza. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2004
- Tendências Globais de Talento 2020. Disponível em: https://www.mercer.com.br/our-thinking/career/global-talent-hr-trends.html. Acesso em julho de 2020.
- Bilitário, Luciana. Vilas Boas, Lígia. Como planejar a minha vida acadêmica e profissional baseada em competências? Disponível em: https://repositorio.bahiana.edu.br:8443/jspui/handle/bahiana/3922. Acesso em julho 2020.